Letra de Enrique Santos Discépolo
Música de Enrique Santos Discépolo
Hoje ‘a Noite Eu Encho a Cara
Sozinha, coisa desengonçada,
Eu a vi esta madrugada
Sair de um cabaré;
Magrela, meio metro de pescoço,
E um cabide no decote
Sob o queixo de osso.
Cambaleando, vestida de cocota,
Cabelos tintos e exibindo
Sua nudez.
Parecia um galo desplumado,
Mostrando ao compadrio
Seu couro picotado;
Eu que sei quando nao aguento mais
Ao ve-la assim, dei no pe’
Pra nao chorar…
E pensar que faz dez anos
Foi minha loucura!
Que cheguei á traição
Por sua formosura!…
Que isto que hoje é um bagaço
Foi a doce inocência
Onde perdi a honra.
Que enlouquecido por sua beleza
Roubei pão da minha velha,
Me fiz ruim e pecador…
Que fiquei sem um amigo
E vivi desiludido.
Que me deixou de joelhos,
Sem Moral, feito um mendigo,
Quando se foi.
Nunca pensei que a veria
Num «descanse em paz»
Tão cruel como o de hoje.
Veja se não é pra suicidar-se,
Que por essa vagabunda
Eu seja o que sou…
Feroz essa vingança do tempo,
Que faz ver destruído
O que eu tanto amei…
E esse encontro me fez tanto mal
Que se eu pensar mais,
Termino envenenado.
Hoje ‘a noite eu encho bem a cara,
Me mamo bem mamado,
Pra não pensar…