Letra de Jaime Brum Carlos
Música de Zulmar Benites
Milonga, salmo campeiro
da xucra lira latina
que chegou da Argentina
ou, talvez, do Uruguai
pois até hoje não «hay»
quem saiba a origem de fatos
pois tal qual o carrapato
a milonga não tem pai.
E certo que ela é sulina
-platina de nascimento-
forjada pelo talento
de algum menestral campeiro.
Ou, quem sabe, um chalchalero
lhe cantasse nos galpões
para alegrar os peões
disfarçado em guitarrero.
A milonga é a parceira
do payador solitário
que no altar do braseiro
faz da guitarra em rosário.
Tem ancestrais africanos
que se cruzaram na Ibéria.
se lá nasceu a matéria
a alma forjou-se aqui
quando o pampa era guri
traçando sua trajetória.
tem mais espaço na história
quem traz milongas em si.
Tendo a fibra do negro
e a nobreza de esponhóis
retovada de bemóis
ou singela e natural
a milonga é um ritual
na catedral do galpão
que transforma em oração
até o verso mais bagual.
Brotando notas da alma
quase em forma de oração
como se Cristo apeasse
pra guitarrear no galpão.